Por Fabio Pellegrini
No dia 27 de junho, um grupo de servidores municipais de Coxim deu continuidade a uma nobre missão que vem sendo realizada há 20 anos, em cumprimento ao Programa Nacional de Imunização: atualizar a caderneta de vacinação de crianças, adultos, gestantes e idosos no Pantanal do Paiaguás, em Mato Grosso do Sul.
O Paiaguás é uma das regiões do Pantanal menos provida de infraestrutura. Fica entre municípios de Sonora, Coxim e Corumbá (MS), em uma área de pouco mais de 27 mil km2 entre os rios Taquari e Piquiri.
Além de atualizar a caderneta de vacinação dos trabalhadores rurais e de suas famílias, levam também a tão esperada vacina contra a covid.
As estradas não têm pavimentação, nem sinalização. O solo é extremamente arenoso. Após os aterros, o que se seguem são as batidas (rastros) de outros veículos, e vale o conhecimento da área para não se perder. Não há postos de serviços, banheiros, nem lanchonetes para se perguntar o caminho.
No inverno, as noites são frias, com temperaturas que chegam a 13 graus centígrados; e durante o dia chegam perto de 35 graus, o que faz com que a picape 4x4 da Secretaria Municipal de Saúde seja carregada “até a tampa”. Além das malas de roupas para 20 dias de inverno, alimentos, barracas, mantimentos, equipamentos para emergências e primeiros socorros, e muitas caixas térmicas com vacinas e gelo.
A vacinadora Lucimara Mourão, a registradora Aline Santana, o agente de vigilância epidemiológica Marcilio Centurion, e o coordenador da Vigilância Epidemiológica e Imunização, Willian Pompilio percorreram 1.984 quilômetros em 20 dias, visitando aproximadamente 160 fazendas e retiros, prestando atendimento em saúde a quase mil pessoas.
“Foram 884 doses de vacinas, sem fim de semana, trabalhando até as 10 da noite, pois tinha ocasiões em que o pessoal voltava do campo tarde ou a gente encontrava comitivas no caminho e parávamos para vacinar. Fora outros atendimentos, curativos, orientações em saúde...”, disse em exclusividade ao site MS Norte o motorista do grupo, Marcilio Centurion, que conhece muito bem a região.
A expedição leva o nome de Lino Lemes, técnico da Vigilância Sanitária da Prefeitura de Coxim que também cumpria a nobre missão, mas faleceu há quase seis anos.
Paixão em atender os mais necessitados
Lucimara conta que segue os passos da mãe, Abadia: “A campanha no Pantanal começou com minha mãe e demais colegas, no tempo da antiga Funasa. Eles faziam em média uma semana nas fazendas mais próximas de Coxim. Quando eu e o Marcilio começamos, estendemos este atendimento e fomos adequando. Hoje temos uma fazenda de apoio onde deixamos gelo e combustível para não parar nosso trabalho. É um trabalho que nossa equipe cumpre com grata satisfação, cuidando da saúde dos pantaneiros".
“Foi bem difícil, ainda tinha muita água em algumas vazantes, muito areião, várias vezes precisamos de ajuda com tratores para algumas travessias, mas foi um trabalho muito gratificante, apesar do difícil acesso, das estradas inóspitas, do trajeto complicado, sem sinalização, mas fazemos de coração, é uma equipe apaixonada por esse trabalho, fico muito feliz em ajudar as pessoas, em levar saúde pois o acesso à cidade é remoto, são pessoas que vem a cada seis meses, um ano...”, relatou Marcilio.
Marcilio ressalta a importância do trabalho desenvolvido ao longo dos anos: “Esse trabalho não pode parar em hipótese alguma. A gente vai parar, mas tem de haver uma continuidade. Essas pessoas precisam. Fala-se muito de fronteiras, de limites entre Coxim e Corumbá, mas a gente não consegue enxergar esses limites, a gente enxerga apenas a necessidade das pessoas. Sempre que puder estarei ajudando, mais levando saúde a esse povo, que já leva uma vida muito sofrida lá embaixo. É uma experiência única”.
O ponto máximo para os integrantes da expedição ocorre após mais de dez dias de viagem, na chegada à Escola das Águas, na fazenda Santa Mônica, à margem esquerda do rio Piquiri, aonde mais de 50 crianças de até 12 anos são atendidas em regime de internato. Quando a equipe chega, as crianças e as professoras fazem uma grande festa. “É uma celebração tanto para eles quanto para nós”, diz Lucimara Mourão.

Outra integrante da Expedição, Aline Santana, conta que não é fácil, mas aos poucos, tudo compensa: “É difícil ficar alguns dias sem internet, sem noticias de casa, mas ao passar dos dias a gente vai se acostumando, chegando nas fazendas e sendo bem acolhidos, ouvindo estórias, percebendo as necessidades deles. Fui me acostumando e me apaixonando. Esta já é minha quinta experiência na Expedição. Há famílias que não tem condições, dependem dos patrões, não têm carros, não têm disponibilidade de ir à cidade, tem família que só atualiza o calendário vacinal das crianças quando a gente chega. Tem famílias que esperam carona de caminhão e às vezes essa carona demora dois dias para levá-las à cidade. É um aprendizado para cada um de nós. Cada crianças que atendemos nos abraça e nos agradece”.
O coordenador da Vigilância Epidemiológica e Imunização de Coxim, Willian Pompilio, fala da experiência: “É uma satisfação atender a população da região pantaneira, esta foi a segunda vez que participo e agradeço a Deus a oportunidade. Levar a saúde até essas pessoas é gratificante. Elas ficam esperançosas, ansiosas quando ficam sabendo que a equipe está a caminho”.