Para o deputado estadual Pedro Kemp (PT), “os tubarões do crime organizado não estão nos barracos, e sim nas mansões de luxo”. Segundo ele, governadores da direita se recusam a pedir apoio ao governo federal, perpetuando o ciclo de violência nas comunidades, além de rejeitarem o projeto do presidente Lula, que busca integrar as forças de segurança — uma medida que, segundo o parlamentar, poderia enfraquecer o crime organizado, oferecer melhores condições de trabalho aos policiais e garantir à população dos morros acesso a políticas públicas básicas, como água, luz, saneamento e segurança. Kemp também criticou o uso político das mortes no Complexo do Alemão e comparou a ação com a operação na Avenida Faria Lima, “onde não houve sangue nem tragédia”.
O deputado estadual Pedro Kemp (PT- MS) foi à tribuna nesta terça-feira (4) para denunciar e alertar sobre o que, segundo ele, estaria por trás da operação orquestrada pelo governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), nos Complexos da Penha e do Alemão, realizada no dia 28 de outubro. A ação resultou em 121 mortes, entre elas policiais militares, jovens suspeitos de envolvimento com o Comando Vermelho (CV) e moradores trabalhadores, vítimas do confronto.
“Esse debate merece atenção da sociedade, mas precisa ser feito de forma responsável. Existe no Congresso Nacional um projeto do Governo Lula para criar o Sistema Nacional de Segurança Pública. Se os governadores querem realmente combater o crime organizado e aprimorar o sistema com inteligência, planejamento e integração, que peçam para seus deputados federais e senadores votarem a favor”, pontuou. Ele lembrou que o presidente Lula já enviou ao Congresso Nacional a PEC da Segurança, que ainda não conta com o apoio dos governadores.
“O governador do Rio está fazendo política e tentando jogar a responsabilidade no colo do presidente Lula. Por que os governadores da direita não apoiam o projeto que cria o Sistema Nacional de Segurança Pública? O governador do Rio foi o primeiro a ser contra. Depois vai à TV dizer que os estados estão sozinhos? Eles não querem uma solução para o crime organizado, querem fazer política. Começou a campanha eleitoral em cima de um tema muito sensível à população: a segurança pública”, denunciou.
Segundo o parlamentar, o papel do poder público deve ir além das operações policiais. Parte da população, cansada da violência e da falta de soluções concretas, acaba apoiando ações que resultam em mortes, mas que não resolvem o problema.
“O que aconteceu no Rio de Janeiro é um filme que já vimos antes. Resolveu o problema do crime organizado? Resolveu o problema das milícias ou do tráfico? Não. O crime organizado deve ser enfrentado com planejamento, inteligência e articulação das polícias. É preciso atacar o cerne: as finanças do crime. Os tubarões não estão nos morros, estão em mansões luxuosas”, afirmou.
Kemp comparou a operação de Castro à realizada na Avenida Faria Lima, em São Paulo — o centro financeiro do país —, onde, segundo ele, a polícia enfrentou o crime organizado sem derramamento de sangue.
“A polícia encontrou mais de R$ 4 bilhões em dinheiro do crime organizado. Quantos tiros aconteceram na Faria Lima? Nenhum. Quantas mortes? Nenhuma. Operações sérias e bem-sucedidas acontecem sem tragédias. A operação no Rio resolveu o problema do crime organizado? Não!”, destacou.
O deputado também chamou a atenção para a postura do governador Cláudio Castro, que, mesmo diante da tragédia, não reconheceu o desastre e ainda fez uso midiático da operação, o que teria elevado sua popularidade.
“Será que a operação foi intencional ou teve fundo político?”, questionou Kemp.
Reunião com governadores
Segundo Kemp, diante da tragédia, Castro preferiu se reunir com governadores de direita para desviar o foco, em vez de pedir ajuda ao governo federal. O governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, também participou do encontro.
“Qual o objetivo do governador do MS ter ido? Aqui não temos problemas? Não há conflitos indígenas? Não há feminicídios, uma verdadeira epidemia?”, provocou Kemp.
Para o parlamentar, a reunião teve caráter político, midiático e não técnico, já que nenhum gesto concreto foi feito em busca de uma solução conjunta com o governo federal. Enquanto isso, a PEC da Segurança segue na mesma, sem movimentação por parte dos governadores. Segundo Kemp, os governadores da direita se recusam a pedir apoio ao governo federal, perpetuando o ciclo de violência nas comunidades, além de rejeitarem o projeto do presidente Lula, que busca integrar as forças de segurança — uma medida que, segundo o parlamentar, poderia enfraquecer o crime organizado, oferecer melhores condições de trabalho aos policiais e garantir à população dos morros acesso a políticas públicas básicas, como água, luz, saneamento e segurança
Operação Contenção x Operação Carbono Oculto
Marcada como a operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro, a Operação Contenção foi uma ação conjunta das polícias Civil e Militar, no dia 28 de outubro, nos Complexos da Penha e do Alemão. O objetivo era prender Edgar Alves de Andrade, o “Doca” ou “Urso”, principal líder do Comando Vermelho (CV). O criminoso conseguiu escapar e segue foragido. Um arsenal de fuzis foi apreendido, mas a operação deixou um saldo de sangue, com policiais mortos, suspeitos e moradores inocentes entre as vítimas.
Em contraste, no dia 28 de agosto, a Polícia Federal e o Ministério Público de São Paulo deflagraram três operações — Quasar, Tank e Carbono Oculto — contra fraudes bilionárias no setor de combustíveis envolvendo o PCC (Primeiro Comando da Capital).
A ação mobilizou 1.400 agentes, teve como um dos palcos a Avenida Faria Lima, a "Wall Street Brasileira" e ocorreu sem um único disparo e com seis presos. Foram 14 mandados de prisão (8 pessoas foragidas) e investigações sobre vazamento de informações.
As investigações apontam que o grupo movimentou R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024, com R$ 7,6 bilhões em sonegação de tributos. Uma fintech ligada ao PCC chegou a movimentar R$ 46 bilhões não rastreáveis, atuando como banco paralelo da organização.
Da Redação
Foto: Assessoria