Por Fabio Pellegrini
Foto: Arquivo pessoal
Moradora de Coxim, no Norte de Mato Grosso do Sul, Vilsinete Gomes Lopes, conhecida como Nethy, é portadora de necessidades especiais e depende de uma cadeira de rodas motorizada para se locomover.
Aos 45 anos de idade, Nethy está terminando o curso de Serviço Social e faz estágio no Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) Piracema, em Coxim. Seu sonho é ser uma excelente assistente social.
Ela foi vítima da pólio ainda na primeira infância e, desde então, teve de se adaptar a uma vida cheia de limitações, mas que não a impediu de casar, ter filhos, estudar e trabalhar, nem de lutar pelos seus direitos.
Ativista social e digital em Coxim, Nethy frequentemente grava vídeos e publica em redes sociais pedindo atenção das autoridades para situações como falta de acessibilidade, mau atendimento nas unidades de saúde, ruas esburacadas e para arrecadação de alimentos para famílias mais necessitadas.
No dia 7 de setembro, ao ver em grupo de whatsapp dois amigos vacinadores divulgando a campanha de vacinação, ela gravou um vídeo – voluntariamente – alertando aos papais e mamães para que vacinem suas crianças contra a poliomielite (toque para assistir).
Em exclusividade ao site MS Norte, Nethy contou como como sua vida foi influenciada pelas sequelas da poliomielite, em uma época em que ainda não havia campanhas de vacinação no Brasil.
“A paralisia infantil me deu (sic) quando eu tinha dois anos e meio. A mãe me conta que ela me colocou numa bacia no quintal pra tomar banho e, logo após me tirar da bacia, minhas pernas não firmavam mais. Vacina era raridade aqui. Tinha, mas era difícil ter como tem nessas campanhas de hoje em dia. Eu fiquei internada na UTI em Campo Grande. Aí, quando voltei, o médico disse pra minha mãe que eu ia ficar a vida inteira assim”, relata Nethy.
“Minha mãe conta que um tempo depois eu comecei a me arrastar para locomover. Até os 8 anos de idade. Aí quando comecei a estudar na Escola Silvio Ferreira, na 1ª série, juntou uma turma de professores e de mães e me levou pra São Paulo. Aí eu já vim de São Paulo usando aparelho nas pernas e muletas. Usei muleta dos nove aos 30 anos. E há seis anos uso cadeira de rodas motorizada”.
“Por causa de uma gotinha eu fiquei assim”, diz ela, pedindo que os pais evitem que isso não ocorra com mais crianças.
“Aconselho os pais que amam seus filhos! Não custa nada. É uma gotinha! Não é nem injeção. Pra não ficar uma paralisia infantil para sempre. Não atrapalha a vida de ninguém. Na minha época tinha muito preconceito. Na minha época xingavam a gente de aleijada. As mães têm que tomar providência, tomar cuidado porque esse vírus está voltando. Hoje com 45 anos estou terminando faculdade de Serviço Social, sou casada há 17 anos, tenho duas filhas e dois netos. E aconselho: quem ama, vacina!”

No Dia das Mulheres, Nethy foi homenageada pela Prefeitura de Coxim por seu protagonismo na sociedade coxinense. Foto: Prefeitura de Coxim
Campanha vai até sábado
O Ministério da Saúde prorrogou a campanha de vacinação contra a poliomielite até o dia 30 de setembro. A medida visa aumentar a cobertura vacinal e a adesão da população à vacinação, já que apenas 34,4% do público-alvo - crianças entre seis meses e 4 anos 11 meses e 29 dias de idade - foi imunizado com 3,9 milhões de doses aplicadas.
A meta do Ministério da Saúde era chegar a 95% do público-alvo de 11,5 milhões de crianças. Entretanto, mais da metade delas, 7,5 milhões, ainda não receberam a vacina da contra a paralisia infantil..
As crianças de um a quatro anos deverão tomar uma dose da Vacina Oral Poliomielite (VOP), conhecida popularmente como gotinha, desde que já tenham recebido as três doses de Vacina Inativada Poliomielite (VIP) do esquema básico. Até agora, cerca de seis milhões de doses foram aplicadas no Brasil.
Programa Nacional de Imunização
A 1ª Campanha Nacional De Vacinação Contra A Poliomielite aconteceu em 1980 com a meta de vacinar todas as crianças menores de 5 anos em um só dia. O último caso de poliomielite no Brasil ocorreu na Paraíba em março de 1989.
Em setembro de 1994 o Brasil junto com os demais países da região das Américas, recebeu da Comissão Internacional para a Certificação da Ausência de Circulação Autóctone do Poliovírus Selvagem nas Américas, o Certificado que a doença e o vírus foram eliminados de nosso continente.